Foi um amor ruinoso.... E foi esse o maior desafio: decorar tanto espaço com a carteira vazia! Até porque Luís, jovem designer gráfico, não gosta de esperar muito pela realização dos seus projectos. Em termos de estrutura, a casa estava em bom estado e não exigiu grandes obras, para além da canalização e da instalação eléctrica, totalmente novas. Na frente, o proprietário deitou abaixo duas paredes e de três pequenas divisões fez uma grande, em L, reservando uma parte para salinha de todos os dias e convertendo a restante área no “salão nobre”, onde recebe os amigos. As paredes brancas surgem, aqui ou ali, forradas a papel ou pintadas numa cor viva. O chão, que estava coberto por linóleo, desvendou um soalho bem conservado.
Para a decoração foi necessário encontrar um compromisso entre móveis velhos, de família, e peças de design do IKEA ou da Habitat. Lamentando não poder ir mais às lojas in, de que tanto gosta, Luís jogou com os contrastes de cores fortes, as suas preferidas, e uma ou outra peça mais cara (como o sofá e o canapé do salão) e recorreu também a trabalhos seus.
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Cadeira antiga estofada em damasco de seda natural, um presente dos pais. Ao fundo, um painel de gesso, da Crere. | Salinha da televisão, com a prateleira Book Worm, da Kartell, na parede. Sobre a estante do IKEA, dois pratos de uma edição limitada da Vista Alegre, na Interna Empório Casa, candeeiro Bubbles em cristal, da Atlantis, e painel de azulejos do século XVII. |
Para este designer, a casa e tudo o que o rodeia é importante. A começar pelos móveis que trouxe de casa dos pais e os outros – poucos mas “suados” – que comprou ao longo dos anos. Last but not least, os objectos: aqueles que compra nas viagens, os presentes dos amigos e os que contam histórias da sua vida, como o urso de peluche que o pai lhe deu quando esteve doente, em criança, e que vive agora na sua mesa de cabeceira. E se são essenciais as peças mais modernas, como os candeeiros da sala ou o mobile que veio de Londres, também o são os azulejos da cozinha antigos, comprados num antiquário do Príncipe Real, ou os puxadores em cristal que descobriu na feira da Ladra. Tudo, mesmo tudo, tem uma razão de ser e de estar na casa de Luís.
Como a família e muitos dos amigos não são de Lisboa, esta casa, geralmente partilhada com Tareko, o gato, está sempre aberta para receber quem vem de fora e para isso existem dois quartos de hóspedes. Este é um espaço que está sempre pronto para as ocasiões especiais (e o seu proprietário gosta das festas tradicionais), mas também para um dia-a-dia de convívio permanente.
Passados seis anos sobre a data em que se instalou, Luís está novamente de partida: comprou uma casa grande, no Meco, e irá precisar apenas de um pequeno estúdio na capital. Assim, pôs o apartamento à venda… Mas as saudades já apertam. É que embora a vida seja isso mesmo, uma viagem sempre em busca de melhor, deixa aqui um bocadinho da sua alma. Tanto melhor, para os seus futuros moradores!
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O gato Tareko, deitado no canapé da sala. Ao fundo, um sofá em veludo azul, de Paulo Ludgero Castro e, na parede, um quadro com colagens de Luís Kapinha (trabalho de curso). Banco acrílico encarnado de Philippe Starck, da Linha da Vizinha, e pouf em cinza metálico, da Zanotta, comprado em Barcelona. |
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Sala da televisão, com as paredes forradas a papel Marburg, da Pedroso & Osório. Sofá e banqueta otomana em pele, da Habitat. Manta de lã do IKEA e candeeiro de pé cromado com cinco braços, dos anos 60, comprado num leilão. |
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 |  | Chave da casa
Apartamento no centro de Lisboa
Área: 180 metros quadrados
Tipologia: sala de estar com recanto de televisão, sala de jantar, escritório, três quartos, casa de banho e lavabo social, cozinha e varanda
Projecto de decoração do proprietário, num estilo em que moderno e antigo, tradicional e ousado se conjugam, nem sempre por escolha própria, mas porque as circunstâncias assim o determinaram |
Corredor com a parede forrada a papel Marburg, da Pedroso & Osório, e um gato em faiança, de Rafael Bordalo Pinheiro. | Sala de jantar, com móvel aparador, mesa e cadeiras em mogno, dos anos 40, oferecidos pelos pais, onde sobressai a peça Juicy Boobs, criada pelo Dasein. |
 | Roube estas ideias!
Quando o orçamento é limitado, existem pequenos truques que fazem a diferença:
Paredes pintadas de cores fortes e contrastantes, ou forradas a papel, numa base predominantemente branca
Detalhes mais acessíveis, como candeeiros, estantes ou pequenas peças decorativas, de design contemporâneo, sobressaem junto ao mobiliário velho
Objectos pessoais, como trabalhos do tempo da escola ou recordações de infância, imprimem carácter e originalidade |  |
Terrinas em faiança de Rafael Bordalo Pinheiro, sobre a mesa da sala de jantar. Lustre do IKEA, personalizado com pingentes de cristal, e aplique em cristal da Baviera, comprado em Praga. As molduras em estuque foram pintadas de branco para realçarem sobre o amarelo das paredes. | A cozinha mantém a traça original, com a chaminé em pedra lioz. Os pratos foram comprados num antiquário e os painéis de azulejos são da Fábrica de Cerâmica Aleluia. Chaleira, design de Michael Graves, da Alessi, acessórios de madeira, da Rafael Bordalo Pinheiro, e funil Pino, da Alessi, na parede. |
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Na casa de banho, lavatórios encastrados em móveis de madeira, desenhados por Luís Kapinha. A colecção de conchas foi recolhida nas viagens que tem feito. | Chão de mosaicos, comprados em Sintra, na casa de banho principal. A banheira antiga foi esmaltada de novo e o lustre, dos anos 40, foi encontrado no lixo e recuperado.
O toalheiro é da Habitat, na Area, e a cortina da banheira, na Paris em Lisboa. As peças
de gesso são da Crere. | Quarto principal, com cama coberta por colcha de algodão Filomenas, da Altamira, manta e almofadas, do IKEA. Roupeiro e mesa de cabeceira oferecidos pelos pais, candeeiro da Habitat, na Area, e totem Castelbajac, da Interna Empório Casa. O painel de azulejos é do século XVII. |
6 perguntas a...
… Luís, jovem designer gráfico, que trouxe da província alma e cor para construir,
no coração de Lisboa, a sua casa.
A cor preferida.
Estupidamente, o azul. É tão básico, não é?
O melhor aroma?
A canela.
A música que o faz dançar?
Bossa Nova.
A viagem de sonho?
Já é projecto. Para o ano, à Austrália.
O espaço que o inspira?
O Palácio da Pena. Para mim é como se fosse o Disneyworld cá da terra.
A figura de referência?
Rafael Bordalo Pinheiro. Toda a minha casa está invadida por ele. A propósito reabriu o museu dele, no Campo Grande, e está fantástico! |
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